Igreja e tolerância

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Marcelo, outro dia vi você saindo de uma igreja, aqui no Rio, após a celebração de uma missa. Fiquei chocada. Você não é espírita? Não é um contrassenso frequentar esses lugares?

Contrassenso é acreditar que a fé só pode ser professada de um único jeito, de uma única forma. Sei que, pelo fato de ser adepto da doutrina dos espíritos, não deveria adorar santos nem frequentar igrejas ou cultos.

Ocorre que, antes de ser espírita, sou um ser humano, de carne e osso, e livre. Posso exercer a minha fé da forma que bem entender, desde que me faça bem e não desrespeite ninguém.

O contato com o divino é algo muito pessoal, não dá para passar receita e ditar normas. Não existe o “jeito certo” de entrar em contato com Deus.

Pode ser na igreja, num culto, no ônibus, ajoelhado na cama, durante uma sessão mediúnica. Não importa. O que vale é a intenção.

Eu sou brasileiro, e, ainda bem, temos uma tolerância religiosa fantástica. Aos doze anos, abracei o Espiritismo, mas nasci em berço católico e, por conta disso, tenho um elo afetivo com a Igreja Católica. Fui batizado na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, fiz Primeira Comunhão. Só não fiz Crisma.

Embora estude o mundo espiritual e das energias e seja fã de Kardec, também sou fã do Papa Francisco. Eu acho ele “o cara”. Está fazendo uma revolução muito positiva no meio católico. Eu o admiro demais.

De modo geral, gosto muito de andar a pé. Zanzo muito pelas ruas do Rio, muito mais do que em São Paulo. Às vezes, a energia das ruas está pesada demais e, como médium, percebo com maior facilidade as ondas negativas do ambiente.

Nesses momentos procuro uma igreja qualquer.

O ambiente da igreja me acalma. Aquele silêncio, as pinturas e os afrescos, os vitrais, tudo me transporta para um outro mundo.

Entro, sento num banco reservado, fecho os olhos, concentro a mente em mim, no meu corpo. Converso com meu mentor. Se estou sentindo algo desagradável, peço ajuda espiritual para que as energias sejam de mim retiradas e dissipadas.

Se quer saber, todo ambiente de oração, de fé, de peregrinação, é imantado pelos espíritos angélicos. No astral não há essa separação radical que fazemos entre católico, protestante, espírita, evangélico, umbandista, budista, muçulmano, judeu.

Há, evidentemente, suas crenças e rituais, porquanto, ao morrer, as pessoas continuam com as atitudes e os comportamentos que tinham em vida. Mas há um profundo respeito no lado de lá que ainda não alcançamos aqui.

E tem mais. Quando viajo a Nova York, nos Estados Unidos, vou a uma unidade da Ciência da Mente para um culto e, aos domingos, frequento uma missa gospel em alguma igreja do bairro do Harlem.

Adoro sentir aquela energia no meio daquele povo cantando com a alma, naquele ritmo frenético, batendo palmas, gritando “Aleluia!”.

No final do culto, todos se abraçam como se fossem amigos de longa data. É como se você fizesse parte, naquele momento, de uma grande família. É muito tocante. Bonito de ver, de viver. Saio de lá andando nas nuvens.

Sabe, aprendi com os espíritos que aquele que tem verdadeiro conhecimento espiritual não tem preconceito. E que a tolerância é a prova do verdadeiro respeito às crenças das pessoas.

Não sou mais nem menos que ninguém. Sou do meu jeitão. Sou simpático a algumas religiões, mas não sigo nenhuma. Sigo os anseios da minha alma. E tenho Deus no coração. Isso me basta.