Como iniciei a psicografia

Escrito por:

Data:

Muita gente me pergunta isso. Como tudo começou? Em 1979, quando minha mãe me levou pela segunda vez ao centro espírita Os Caminheiros, encontrou Zibia Gasparetto perto da recepção. Zibia olhou para minha mãe, depois para mim e disse:

— Pode deixar que vamos tomar conta do seu filho. Ele faz parte da nossa família espiritual. E tem um romano que o acompanha. Vai treiná-lo, não sei bem para quê.

O romano em questão se apresentaria três anos depois durante uma aula de mediunidade prática; os alunos foram divididos em grupos com tipos de mediunidade distintos, e eu caí no grupo de psicografia. Duas aulas depois, ficou claro que Marco Aurélio queria contar histórias. Só histórias de vida. Nada de mensagens de parentes desencarnados.

O nosso objetivo era começar ali, no distante ano de 1982, um compromisso selado antes de eu reencarnar: praticar a psicografia para que, alguns anos mais à frente, pudéssemos escrever romances.

Eu já lia Zibia com gosto. Naqueles tempos ela não publicava com a rapidez de hoje porque o processo era mais lento: primeiro escrevia a lápis ou caneta e depois todo o conteúdo era datilografado; de fato, levava-se um tempão! Para se ter uma ideia, em 1980, havia só cinco livros da Zibia no mercado; desses cinco, quatro eram romances. Quando eu entrei na escolinha de médiuns, ganhei da minha mãe o Laços eternos. Li umas três vezes essa bela história que tinha sido publicada originalmente em 1976. O romance seguinte da Zibia, O matuto, só seria publicado em 1984.

Nesse intervalo, enquanto estudava Kardec e não tinha romance novo da Zibia, eu devorava Agatha Christie, Sidney Sheldon, P. D. James, maria José Dupret, redescobria Machado de Assis e Monteiro Lobato. E me apaixonei pelos textos inteligentes do Nelson Rodrigues e “áridos” do Rubem Fonseca. Detalhe curioso: tive de ler um livro do Rubem Fonseca na surdina, colocando outra capa sobre a original. Depois conto essa história pra você.

É por essas e outras que não posso deixar de agradecer ao Círculo do Livro, que me proporcionou comprar muitos livros de excelente acabamento a preços bem acessíveis e, claro, ao Victor Civita e à Abril Cultural. Sabe por quê?

Na década de 1970, não existia a internet. O mundo era outro, e o conhecimento não chegava com um clique, tampouco com um toque de dedo em uma tela de cristal. Você precisava ter acesso a uma biblioteca, fosse pública ou de escola, ou comprar coleções e enciclopédias. O Victor Civita transformou os fascículos de banca de jornal na internet da minha geração.

Foi assim que colecionamos, lá em casa, tesouros, como Conhecer, Grandes personagens da nossa história, Grandes personagens da história universal, As grandes religiões, Enciclopédia do estudante, Os imortais da literatura universal, Os pensadores, Saga e o meu xodó: Nosso século.

Isso me deu uma base de conhecimento geral que o ensino de hoje não alcança. São livros que eu guardo com carinho em minha estante da sala e faço questão de conservá-los e ainda consultá-los. Porque a internet cai, fica sem sinal… Os livros ainda estão aqui do meu lado. É só pegar e abrir.

Bom, eu tinha acabado de completar quinze anos, estava em plena adolescência, os hormônios explodindo e tinha outras vontades, desejos, outros sonhos. Por mais que me interessasse pelos estudos espirituais, queria fazer faculdade, estudar línguas, viajar o mundo, trabalhar e ser independente, sair com os amigos, dançar, me divertir e namorar, como a maioria dos jovens nessa idade quer.

Fui praticando a psicografia, mas sem expectativas, sem jamais pensar que um dia eu fosse escrever, de fato, um romance. Toda semana, com calor, frio ou chuva, jogo de futebol na telinha ou último capítulo de novela, estava lá no centro, trabalhando, praticando a psicografia, escrevendo umas linhas.

Assim fizemos durante quinze anos, até que Marco Aurélio me orientou a pegar o calhamaço de papel e passar para o computador. Contratei os serviços de uma digitadora, lembro-me bem, porque eu trabalhava e viajava bastante a negócios. Não tinha tempo para passar aquilo tudo para o computador. Ela me disse que tinha adorado a história. Que história?! Durante todos aqueles anos, tínhamos feito um romance, contudo, eu não tinha me dado conta. Aquilo ficou guardado num disquete, bisavô do pen drive e tataravô da nuvem. E guardei numa pasta com elástico, dentro de uma gaveta.

Em 1998, depois de uma situação bem desagradável pela qual passei, Marco Aurélio chegou junto e indagou:

— E aí? Agora tem jeito de pegar aqueles escritos, dar uma lida, agrupar os capítulos e finalizar o livro?

Como eu estava com muita vontade de fortalecer novamente o elo com a espiritualidade, que ficara meio frouxo, não tive dúvidas: tranquei-me no escritório de casa e fiquei três dias e três noites arrumando, lendo, ajeitando, cortando, editando, acrescentando, tudo sob supervisão do mentor.

Concluído o trabalho, Marco Aurélio arrematou:

— Leva pra Zibia.

— Assim, sem mais nem menos?

— É. Por quê?

Com esse jeitão firme de me questionar nem tive o quê ou como responder. Meti o rabo entre as pernas e lá fui eu com a pastinha embaixo do braço. Quando abri a porta da sala, na gráfica, ainda na rua Santo Irineu, logo que coloquei o primeiro pé no recinto, Zibia olhou para mim e se lembrou da visão de quase vinte anos antes:

— O romano veio junto. Agora eu sei o porquê de ele estar com você. Vão escrever livros.

Ela nem sabia por que eu tinha ido lá. Eu nem tinha falado nada. Não abri nem fechei a boca. Sem graça pra caramba, entreguei o original e falei:

— Marco Aurélio disse que é um romance. Demoramos quinze anos, mas está feito.

— Vou ler e, se estiver de acordo com a linha da editora, eu vou publicar.

— Está certo, Zibia.

— Já tem outro?

— Não.

— Médium que se propõe a escrever tem que abraçar isso pelo resto da vida. E tem que ser com paixão, com vontade de fazer. Senão, é melhor esquecer. Experiência de quem faz isso há cinquenta anos.

Eu não tinha nada. Nem sabia o que fazer. Mas saí de lá com uma sensação tão agradável, com uma vontade tão grande de escrever! Eu adorava ler, gostava de português, tinha facilidade em captar as ideias do Marco Aurélio e queria dar novo sentido à minha vida. Por que não?

Comecei a escrever, timidamente, duas vezes por semana, com dias e horários marcados, sem saber se o livro entregue anteriormente à Zibia seria publicado. Uma semana depois ela me ligou e disse que iria publicar o romance. Meu primeiro romance, A vida sempre vence, foi lançado oficialmente no dia 12 de dezembro de 2000.

O resto… bom, o resto se transformou nesta carreira maravilhosa que passou de vinte anos, me trazendo muitos ensinamentos, alargando a minha consciência, permitindo que eu veja o nosso mundo de acordo com a ótica dos amigos desencarnados, levando mensagens positivas e transformadoras para a vida das pessoas e melhorando o astral do planeta.

É pouco? Não sei. É muito? Também não sei. Só sei que faz bem, tanto para mim quanto para os meus leitores. Vejo esse bem espalhado nas linhas das cartas, e-mails e mensagens nas redes sociais que recebo todos os dias. Há relatos muito emocionantes. Só o carinho dessas mensagens, e-mails e cartas [sim, ainda recebo cartinhas!] vale por tudo o que tenho feito até hoje.

Eu e meus amigos espirituais agradecemos a todos vocês. De coração e braços abertos!